quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Velho e Guardado: Laranja Mecânica (1971)

No quarto post da coluna escolhi falar de um dos primeiros grandes clássicos que assisti. Trata-se do tão polemico, para sua época, “Laranja Mecânica”, dirigido pelo mestre Stanley Kubrick. Sempre ouvia falar deste filme, mas não compreendia sua grandeza quando mais nova. Assim que comecei a estudar cinema, decidi que este deveria estar em meu top 10 filmes para assistir, e assim o vi.
Laranja Mecânica fala sobre a vida de Alex, um jovem que gosta de música clássica, estupro e ultraviolência. Ele lidera uma gangue de delinquentes que roubam e abusam de outras pessoas. Durante um destes roubos, Alex é preso e usado em um experimento que o faria parar com estes atos, porém acaba se tornando impotente para lidar com a violência que o cerca.
Começarei falando sobre o roteiro do filme. Laranja Mecânica tem um dos melhores, isto em minha opinião, roteiros da história do cinema. O personagem principal do filme, Alex, é um anti-herói, algo que até pouco tempo não era comum de se ver. Kubrick prende o telespectador do começo ao fim mostrando a hipocrisia, o cinismo e o egoísmo de uma sociedade. Além disso, você nunca sabe o que está por vir.
Outro aspecto que faz deste filme um clássico é Malcolm McDowell, que interpreta o jovem Alex DeLarge em uma atuação perfeita. O modo como o personagem age diante a tal violência, com um olhar frio, distante e intimidado, faz dele o ator perfeito para o papel. E não sou eu quem está dizendo isso. O próprio Stanley Kubrick, que não costuma falar sobre seus filmes, disse que caso Malcolm não aceitasse o papel, não rodaria este filme.
Agora falemos da parte que eu mais gosto: a fotografia. Aqueles que conhecem os trabalhos de Kubrick sabem que é ele quem comanda as técnicas de filmagem em seus trabalhos. Seus filmes estão sempre em perfeita sintonia, nas cores, objetos, planos, figurino, tudo se encaixa como um quebra-cabeça. E em Laranja Mecânica não é diferente. Kubrick constrói uma Inglaterra futurista, porém cheia de influencia dos anos 70.
Como falei acima, Alex é fã de música clássica e por isso, Kubrick utiliza do gosto musical do personagem para construir uma contrastante trilha sonora, afinal, assistir a um ato de violência com a 9ª Sinfonia de Bethoveen de fundo faz qualquer um ficar confuso. Além das músicas clássicas, Kubrick ainda montou uma sequencia onde Alex canta a tão famosa “Singin’ in the Rain” do filme “Cantando na Chuva” enquanto pratica um ato de ultraviolência.
Kubrick, que acabara de dirigir “2001- Uma Odisseia no Espaço” quando rodou este filme, inovou e ousou mais uma vez de suas técnicas cinematográficas. Ele é um dos poucos diretores que conseguem fazer o filme que quer do jeito que quer e ser aclamado pelo publico, e por quem trabalha com ele.
Laranja Mecânica recebeu quatro indicações ao Oscar, entre elas de Melhor Filme e Melhor Diretor. Além de também ser indicado ao Globo de Ouro. Por isso e por todo o resto que falei neste post que falo que: “Laranja Mecânica é Cult, inovador e polemico, a mistura perfeita para um clássico”.

Dicas:
“2001 – Uma Odisseia no Espaço”
Não existe um filme melhor para conhecer o trabalho de Stanley Kubrick senão o filme “2001 – Uma Odisseia no Espaço”. Um dos melhores filmes de ficção cientifica de todos os tempos que inova no visual, no artístico e no sociológico. O filme foi lançado em 1968, após cinco anos de produção, e relata a viagem de uma equipe de astronautas a Júpiter para investigar o enigmático monólito na nave Discovery, que é controlado pelo computador HAL 9000. O filme é um Cult, por isso, caso não o entenda, não se preocupe, você não está sozinho. Vale a pena ler sobre o filme antes de assistir.

“O Iluminado”
Um hotel vazio, apenas com três pessoas morando nele, em um lugar distante e isolado: tudo que um filme de terror precisa. “O Iluminado” conta a história de um homem que viaja com sua família para cuidar de um hotel no colorado e que, devido ao isolamento, começa a ter sérios problemas mentais, fazendo o se tornar mais agressivo e perigoso. Com a impecável atuação de Jack Nicholson, este filme pode ser considerado a obra-prima do horror moderno.

Da Coluna: CooltureNews - Velho e Guardado

Velho e Guardado: Ensaio sobre a Cegueira (2008)

Neste post da coluna “Velho e guardado” escolhi um filme que assisti recentemente. O filme em questão é “Ensaio sobre a Cegueira”, dirigido por Fernando Meirelles e com atuação de Mark Ruffalo, Julianne Moore e a brasileira Alice Braga. O filme é de 2008, porém é conhecido mais nos Estados Unidos do que no Brasil.

Ensaio sobre Cegueira foi baseado no livro, de mesmo nome, escrito por José Saramago, um escritor de romance português, e foi publicado em 1995. Saramago resistiu ao máximo ceder os direitos autorais para que fosse feito o filme, porém quando assistiu ao filme de Meirelles, disse ter sentido a mesma coisa de quando terminou de escrever o livro.

O filme conta a história de uma epidemia de cegueira que, sem explicações, atinge a população de uma cidade. Está cegueira é denominada “Cegueira Branca”, pois as pessoas infectadas passam a ver apenas uma superfície leitosa. O primeiro “alvo” desta cegueira é um homem no trânsito e, lentamente, se alastra para as pessoas com quem ele teve contato e assim acaba infectando todo o país. Devido a isto, todos os afetados pela “cegueira branca” são colocados em quarentena onde os serviços do Estado começam a falhar e apenas a mulher do médico não foi atingida pela epidemia.

Primeiramente devo dizer que adoro os trabalhos de Mark Ruffalo e Julianne Moore, principalmente o mais recente “Minhas mães e meu pai” onde ambos contracenam juntos. E assim como neste filme, em “Ensaio sobre a Cegueira” eles estão ótimos. Julianne Moore é perfeita para o papel. Só alguém tão grandiosa como ela poderia interpretar com tanta emoção o papel da mulher do médico. E falando nos personagens vale lembrar que nenhum deles tem nome, eles são reconhecidos como: um casal de japoneses (Yusuke Iseya e Yoshino Kimura), um oftalmologista (Mark Ruffalo), uma prostituta (Alice Braga), uma criança (Mitchell Nye), um negro de tapa-olho (Danny Glover), a mulher do oftalmologista (Julianne Moore) e outros.

A partir do momento em que comecei a assistir ao filme, me deparei comparando “Ensaio sobre a Cegueira” com o mais famoso “Eu sou a Lenda”. Porém, os filmes possuem aspectos diferentes na história. “Eu sou a Lenda” fala sobre a busca da cura para aquela doença, já “Ensaio sobre a Cegueira” aborda a “briga”: sociedade x natureza, onde os personagens precisam decidir entre a moral e o instinto.

Para quem já leu meus dois outros posts sabe que sempre falo disto, se tem algo que me chama a atenção em um filme são as cores, os tons, os planos, ou seja, a fotografia. Devo dizer que este filme, para mim, tem uma das melhores fotografias que já vi. Assinada por César Charlone, a fotografia de “Ensaio sobre a Cegueira” faz você se sentir com a “cegueira branca” te deixando mais próximo dos personagens. A ousadia nos planos e nas cores frias dá ao filme um sentimento de vazio e de solidão, o que muitos dos personagens sentem durante a trama.

Outra coisa muito importante neste filme foi o som. Ele acaba tirando nossa atenção em diversos momentos, fazendo com que fiquemos “cegos” para as imagens e prestemos atenção apenas no que está sendo falado ou para algum ruído. Ele utiliza o som como uma ferramenta de ligação de uma seqüência para outra.

O direcionamento de Meirelles neste filme foi crucial. Ele escolheu muito bem a forma de abordar um filme sobre uma situação quase impossível de acontecer, e digo isso porque não sabemos o dia de amanhã. Seja na atuação, na fotografia, na trilha sonora, no design de som, Meirelles conseguiu fazer com que o filme fosse algo real para quem o assistia durante seus 120 minutos de duração.


Dicas:

Eu sou a Lenda

Pra quem gosta de ficções como a de Ensaio sobre a Cegueira, vale à pena conferir “Eu sou a Lenda”, com Will Smith e também com a brasileira Alice Braga. O filme fala sobre um terrível vírus que atinge toda a população de New York menos em Robert Neville, que se tornou imune ao virues e que percorre a cidade em busca de algum sobrevivente.


Minhas Mães e Meu Pai

Este foi um dos melhores filmes que assiste ano passado. Indicado ao Oscar, “Minhas Mães e Meu Pai” trata de um assunto que ainda é muito polemico, a homossexualidade, de uma forma sutil e ao mesmo tempo grandiosa. Além disto, o filme conta com a incrível Annette Bening, que não podia estar melhor.

Da Coluna: CooltureNews - Velho e Guardado

Velho e Guardado: 8 ½ (1963)

Neste segundo post da coluna, vou falar de “8 ½” Este filme foi dirigido por Frederico Fellini, um dos mais importantes cineastas italianos, que ficou conhecido pela poesia de seus filmes e por nunca deixar a magia do cinema desaparecer. O título do filme é devido à carreira do próprio Fellini, que até então havia dirigido oito filmes, e co-dirigido um.

“8 ½” é de 1963, autobiográfico, como a maioria dos filmes de Fellini, e que tem uma ótima trilha sonora, assinada pelo compositor Nino Rota, que é muito importante na composição de algumas cenas do filme, como a inicial. O filme conta a história de Guido Alsemi, vivido por Marcello Mastroianni, um cineasta que passa por uma crise de criatividade e decide se internar em uma estação-de-águas para tentar achar inspiração para o filme que está produzindo. Além da pressão dos produtores, da imprensa, de sua mulher e da amante, Guido ainda tem que se preocupar com sua saúde. Em si, o filme segue a linha de pensamento de Guido, é como se fosse um diário, os acontecimentos refletem o modo como ele vê.

Algumas pessoas não sabem, mas Guido Alsemi é um dos alter egos de Fellini, como dito anteriormente, “8 ½” é um filme autobiográfico, e segundo o próprio diretor, partes do filme são imagens que vieram a sua cabeça através de seus próprios sonhos. Ainda há quem diga que Fellini, na época, passava pela mesma crise de criatividade do personagem e foi assim que concebeu “8 ½”. Ponto positivo para Mastroianni, que interpretou perfeitamente Guido.

Ao ver este filme pela primeira vez (Já assisti duas vezes) fiquei admirada com os planos seqüenciais feitos no inicio do filme, é incrível como a câmera passa de um personagem para o outro da forma mais natural e leve possível. Outra coisa que me chama a atenção nele é a beleza da fotografia. Há pessoas que não gostam e não vêem beleza em filmes em preto e branco, porém existe todo um trabalho de iluminação, ainda maior que em filmes coloridos, para deixar a imagem bonita, e você consegue ver essa beleza, este trabalho de iluminação em “8 ½”.

O filme é a obra de arte de Fellini, pelo menos é o que eu acredito. Para quem o conhece e já assistiu alguns de seus filmes, principalmente os que antecedem “8 ½” como a Estrada da Vida e Noites de Cabiria, sabem da linguagem usada pelo diretor, a essência circense que existe na maioria de seus filmes, e percebem a ousadia e a originalidade deste filme. “8 ½” é aquele tipo de filme que se você gosta, certamente virá a ser um de seus filmes preferidos.

Para finalizar o post, cito um trecho de uma crítica que li pouco antes de ver o filme no site Contra Tempo , feita por Carim Azeddine, que retrata exatamente o que é o “8 ½” de Fellini.

“A complexidade da estrutura, melhor, da relação do filme com a sua própria realidade a espelhar a realidade do seu criador, era novidade no cinema. Um filme narrado numa flexão ambígua que se situaria entre a primeira e a terceira pessoa do singular. Não realmente o “eu” de uma biografia, tampouco o “ele” de uma ficção.”

Dicas:

Nine

Nine é um musical inspirado em “8 ½”. A história é praticamente a mesma, são mudadas algumas coisas, mas o principal está lá. O elenco conta com diversas personalidades, entre elas: Daniel Day-Lewis, no papel de Guido, Penélope Cruz, no papel da amante de Guido, Marion Cotillard, como a mulher e com a participação mais que especial de Sophia Loren, como a mãe. Por ser um musical, não são todas as pessoas que gostaram, mas vale a pena assistir.


A Estrada da Vida

“La Strada”, nome original, é um filme de 1954 dirigido por Fellini. O filme conta a história de uma moça que é vendida por sua mãe para Zampanò, um homem rude que trabalha fazendo apresentações em diversos locais. Este ainda é um filme neo-realista, movimento que Fellini seguia antes de “8 ½”, e mostra um Fellini diferente. Se você ainda não assistiu “8 ½”, recomendo que assista a este filme antes para entender melhor o trabalho do diretor.

Velho e Guardado: Dogville (2003)

Há pouco tempo assisti Dogville e desde então tento entender o porque gostei tanto deste filme. Este filme é de 2003 e foi dirigido pelo polemico Lars Von Trier, que recentemente ganhou o titulo de “Persona non grata” no Festival de Cannes devido ao seus comentários sobre nazismo. Von Trier já dirigiu Dançando no Escuro, que conta com a atuação de Björk, e Anticristo, um dos mais polêmicos de sua carreira. O filme é o primeiro da trilogia “E.U.A. Terra de Oportunidades”, e tem como sequência Manderlay (2005) e o ainda não filmado Wasington, sim o nome do filme está escrito corretamente.

Dogville conta a história de Grace (Nicole Kidman), que esta fugindo de gangsteres e na fuga acaba chegando a uma cidadezinha isolada, onde com a ajuda de Tom, um escritor que procura uma forma de mostrar aos moradores da cidade que eles não aceitam novas situações, consegue escapar dos bandidos. Grace é abrigada na cidade e em troca disto terá que prestar pequenos serviços para a população local para continuar se escondendo. Porém, quando os gangsteres intensificam a busca, os habitantes de Dogville percebem o perigo que estão correndo e começam a querer receber mais coisas em troca da proteção de Grace, que percebe que sua liberdade custará caro.

O filme possui um cenário simples, com pouquíssimos objetos de cena e marcações no chão, que dividem os espaços da cidade e dão um ar de peça teatral ao filme. Por ter sido gravado em um galpão completamente fechado, Von Trier usa e abusa das alterações de luz e cor do cenário, que indicam mudanças de clima, dia/noite e, principalmente, para alterações de momentos importantes no filme, o que vai totalmente contra o movimento Dogma 95 criado por Lars. Tudo isso foi calculadamente pensado pelo diretor, que queria que os atores fossem valorizados o tempo todo no filme, como são nas peças de teatro. Além disto, a ausência de paredes dá a entender que os moradores da cidade sabem o que está ocorrendo, mas preferem fingir que não estão vendo.

A atuação é o ponto mais forte no filme. Lars Von Trier exigiu o máximo dos atores, fazendo com que uns até o odiassem, o que pode ser visto no documentário Dogville Confessions, que foi rodado juntamente com o filme. Mas todo o esforço e as exigências valeram a pena, afinal ao ver o filme você não pensa “Ah, isso é uma atuação”. Não, você se coloca no lugar do personagem e sente o que ele está sentindo, fazendo você ficar com raiva e angustiado todo o tempo. Nicole Kidman está perfeita no filme, pode-se dizer que é um dos melhores filmes da atriz.

Dogville é 8/80, ou você irá assistir e se apaixonar, querendo saber tudo sobre o processo de criação do filme, ou você irá odiar e nunca mais querer ouvir falar dele. O filme é totalmente fora dos padrões e critica abertamente não só o estilo americano de vida, mas o estilo de vida de todos os cantos do mundo.



Dicas:

Dogville Confessions

Este é um documentário que foi rodado durante as gravações de Dogville. Dirigido por Sami Saif, Dogville Confessions é uma espécie de Making Of do filme que conta a experiência dos envolvidos na produção do filme, inclusive com os atores. Algo peculiar é a caixa de confissões, onde as pessoas entram e falam sobre o que está acontecendo nas gravações e, na maioria das vezes, as dificuldades que estão tendo com o diretor Lars Von Trier.


Anticristo

Este, como já falado acima, é um dos filmes mais polêmicos da carreira de Lars. O filme é bem punk, difícil de ser visto e também de ser entendido, pois muitos dos acontecimentos são colocados metaforicamente. Não contarei nenhuma sinopse por que acho que tudo que acontece do começo ao fim deve ser uma surpresa para o telespectador que irá assisti-lo.

Da Coluna: CooltureNews - Velho e Guardado